Verão da inteligência artificial está começando, diz fundador de startup
D. Scott Phoenix, da startup Vicarious, afasta receios de que a tecnologia eliminará postos de trabalho: "haverá muitos novos que serão criados”
A inteligência artificial é ainda cercada por uma aura de mistério, e será difícil achar uma melhor ilustração disso do que a notícia recente de que uma vovó britânica usou toda sua educação com “por favor” e “obrigada” para realizar suas buscas no Google.
“Por favor, traduza esses números romanos mcmxcviii, obrigada”, diz o pedido de pesquisa de May Ashworth que viralizou quando seu neto publicou um print de sua busca no Twitter.
“Eu pensei, bem alguém deve estar informando isso, então você os agradece”, explicou Ashworth. “Eu não sei como funciona para ser honesta. É tudo um mistério para mim”.
É uma história cativante acerca do funcionamento do próprio Google, mas também sublinha a forma como a inteligência artificial ainda se mantém em uma espécie de caixa preta.
“A maioria das pessoas não sabe como funciona, então há esse sentimento de se perguntar o que ela poderá fazer depois?”, indaga D. Scott Phoenix, co-fundador da startup de inteligência artificial Vicarious.
Mas Phoenix acredita que o potencial, em breve, será revelado.
Depois de um longo inverno, por assim dizer, o “verão da inteligência artificial” está, finalmente, começando, diz. “Há alguns componentes chave que podemos buscar e alguns que já aconteceram”.
Já temos ao nosso alcance uma quantidade enorme de dados e mais dados, além da redução do preço do armazenamento, memória e poder de computação a “quase zero”, Phoenix explica.
Ao mesmo tempo, é agora reconhecido que até mesmo as menores melhorias alcançadas através da Inteligência Artificial – um décimo de 1 por cento em publicidade de taxas de clique, por exemplo – podem ter um efeitos massivos na receita de uma empresa.
“Agora há esse motor rodando e nós sabemos que a I.A. importa”, diz. “Há agora uma demanda do mercado estável”.
Na sequência virá um novo foco nas habilidades necessárias para melhorar a tecnologia.
“Nós vimos algo semelhante nos primeiros dias do software e nos primeiros dias da Internet”, avalia Phoenix. “Nós estamos entrando nessa era de melhorias rápidas”.
A própria startup Vicarious é envolta em uma aura de mistério. Fundada em 2010, a companhia espera levar a inteligência artificial além dos sistemas para fins específicos que vemos hoje - como exemplo, uma parte do software do Google focada em jogar o jogo de tabuleiro Go – para construir uma com um propósito mais geral.
No entanto, a empresa tem se mantido um tanto discreta sobre sua tecnologia, dizendo que ainda não está pronta para lançar um produto ainda.
“Nós estamos realmente interessados em ter uma arquitetura algorítmica única e unificada que funciona para atingir performance próxima a humana através de múltiplos domínios, incluindo visão, linguagem e controle motor”, diz Phoenix.
“Nós estamos especialmente interessados em personificação. Há muitas coisas que você consegue aprender ao estar em um corpo e interagir com o mundo”, acrescenta.
Para atingir tais fins, a Vicarious está emprestando aprendizados da neurociência, arquitetura profunda e modelos probabilísticos gerais para criar a inteligência artificial que exige menos treinamento de “ordem de magnitude” do que as técnicas tradicionais de machine learning.
A companhia levantou cerca de US$ 70 milhões até então, com investidores que incluem Mark Zuckerberg, CEO do Facebook, Elon Musk, CEO da Tesla Motors e SpaceX, Jeff Bezos, CEO da Amazon e Marc Benioff, CEO da Salesforce.
A empresa de Phoenix pode estar trabalhando para criar uma inteligência artificial com um estilo mais amplo, semelhante à humana que consegue aprender e generalizar, mas o empresário não está preocupado sobre a perda generalizada de postos de trabalho que é tão comumente anunciada.
“Se você olhar através das revoluções tecnológicas passadas – fábricas automatizadas, software, PCs – muitos empregos foram tomados por esses, e mesmo assim temos empregos hoje”, avalia. “O emprego que eu tenho hoje não existiria naquela época; outros eram muito diferentes”.
O lado bom dessa história é que a inteligência artificial nos ajudará a fazer mais do que antes, então empregos mudarão, mas não desaparecerão.
“A ideia de que nós ficaremos sem empregos ou coisas para fazer é, pelo menos a curto prazo, forçado”, diz Phoenix. “Haverá muitos novos tipos de trabalhos que serão criados”.
As pessoas precisam ver que há “ainda muito a ser feito, muito a ser inventado para nos levar a uma melhor sociedade”, acrescenta. “Nós temos muito ainda a conquistar ao ter sistemas mais inteligentes – sempre há mais trabalho que podemos fazer e alturas maiores que podemos alcançar enquanto espécie humana”.